Sou da companhia da Bugra

domingo, 27 de setembro de 2009

“No Reino do Arco-íris”/ferreira vanda/1993

Seremos sal espumando;

(todo céu tem estrelas, toda vida vê no sol luz calorosa)

Qualquer caminho leva ao mar.


... E eu aqui

no escuro negro do casulo,

no tempo da espera,

curtida no desejo da luz.

... E eu aqui

no tamanho deste interior.

no roçar de pele e parede,

texturas de carne e fibra cinza.

... E eu aqui!

crescida de extensão.

rachar-se-á minha casca...

desabrocharei colorida!

minhas asas espreguiçar-se-ão:

sentirei o vento e flutuarei no ar do espaço.

O casulo?

Ficará preso, morto

enroscado no tronco estático,

rasgado, vazio solitário;

Fase ultrapassada, descaso da liberdade.

... E eu borboleta

rebuscada primaveril,

beijarei a doçura dos aromas,

dançarei no espaço infiltrado de sol,

e sem limite,

viverei minha eternidade...


... Aí num laço sou nó,

concentrado divisório,

tira de braços ao vento,

filamentos despojados,

ao norte, ao sul

estirados na vertical

exalando perfume rosa.

(Ah! Alimento meu físico:

Como carne de bicho,

- fantasiado de temperos –

Sirvo-me civilizada,

pareço superior, herói de guerra,

ganhador de luta insana;

E não sei que é selvagem...

E não tenho sentimentos...

Aí sou cor azul,

formando laço depois do nó;

enlaçado cordão de carne.

E a vida é cor!

... Aí sou simplesmente asas...

Alada vagante,

lambedora de amplidão

sorvendo brisa;

E assim sou tudo,

desprendida,

sagrada na liberdade!



no amanhecer há sol romântico,

luz de amor que desperta,

que unta e desfaz nós!

E não sou mais gravata...

Sou a nudez do coração despido.

O horizonte

é mata amazônica...

Verde vegetal é ar,

sentimento purificante

da poluição não almejada!

... Aí

sou bugra tigresa,

raízes terráqueas,

eternidade de barro,

mestiça de negrura e brancura,

e me pulsa

sangue vermelho exclusivo!

... Aí sou verdura de erva,

mate que mata

saciando o sugar da boca!

... Aí

sou romantismo cardíaco,

palpitação de prazer,

serenidade

amolada em céu desvendado,

Ásia e América ungidas,

esguichando querer aguçado!



Aprecio céu de nuvens,

fofura de espaço...

Galgo sabores

no avistar do horizonte

... Aí

meço o Ocidente,

assunto o Oriente,

ouço tambores,

escuto Américas

e percorro seus mares!

Sou salgada,

areia rosa ou amarela,

cor-de-pérola.

Não! Não há cor!

É branca paz,

tempero de alma,

de oceano, de algas.

E, aí,

tenho vontade de dizer “te amo”,

viro frase, monto letras.

Quebra coração,

desmancha sossego!

Sou lenha para queima...

Árvore seca cortada.

Labaredo incandescida

e fumaceio música,

melodia nos ares!

Extrapolando chaminé: devasso!

... E aí

sou nuvem derramando chuva,

fluindo frescura celeste,

ribombo de gotas.

Fio grosso, fino,

na cor do mundo!

... Aí sou o mundo,

misto de água, terra...

Sou lua e sol,

e tenho coração no cérebro...

Mínguo, renovo,

cresço e inflamo!

Sou o degustar da peregrinação...

Sou marco, chegada, partida,

âncora da liberdade!

... Aí o sol faz magia:

fenômeno crepuscular!!!

Palpita despedida de luz,

promessa de lua!

... A í sou negrura cintilante,

preto estrelado,

abóboda salpicada de prata,

pontos luminosos,

reflexos divinos!

... A í sou emoção,

sou flor,

sou cor,

sou praia!!!

E beija-me onda marítima,

e revoam-me as gaivotas!

... A í sou ventre contraído necessitando parir,

querendo o abortar!

Sou mina minando,

céu da madrugada

com sol raiando.

... A í

quero ver do dia

a exatidão do claro,

o limitar do tempo

para o céu crepuscular.

Medito no entardecer...

Revôo no vôo dos pássaros,

marco encontro com a noite

e peço, do céu, o luar.

... A í

sou praça refletindo luz lunar,

abrigando abandonos;

Sou ponto aninhando fantasias.

... E sou furta-cor,

camaleão destemido,

malícia visual.

... A í

sou olhos-semi-cerrados almejando sonho;

Querendo adormecer realidade

e conhecer espirituoso mundo!

... A í sou fronteira atravessada pela sanga...

E tenho coroa de flores

colhidas no campo

onde não há espinhos.

Sou leito embalador de água...

Passiva me mantenho!

Águas passaram...

Percorrem-me novas águas

que seguirão meu destino...

trajetória ao mar.

.. E aí

sou o latejar do encontro,

coração ao encanto...

E provo o sal,

e sou limpidez

esbarrando difamação!

... Sou oceânica,

Inquietude verde...

Engulo o dia

e mastigo a noite.

... A í sinto frio e amo o calor;

Sinto saudade e amo a presença!

Vejo no hoje o amanhã:

Na chuva de inverno

a divulgar a primavera...

Viro bicho preguiça...

Pendurada em sonho...

E sou hiena feliz,

cópia de canto risonho!

... A í...

Acordam-me os pássaros,

e sou árvore na alvorada,

sustentáculo de filhotes

em fome amanhecida.

E pego rabeira no raio-de-sol

e pouso na palha de frieza seca para torná-la dourada!

... E sou palha pronta,

Manuseia-me o peão;

Alisa-me,

me enrola e me traga,

queimando nicotina

na saliva de café.

...Aí meu coração rodeia campo.

Olhar varredor,

com auréola matuta;

Pura tigresia amando terra!

...Aí sou adepta do amor,

Filha da mãe-natureza!

Sou água, sou pedra,

rocha lendária!

CARTA PARA ANA CAROLINA.

Ana Carolina,

Todo ano aguardo a chegada da primavera com o coração aberto, porque em toda primavera renovo meu amor pela vida. Mas a primavera de 2009 me surpreendeu trazendo muito mais que a sagrada chance esperada por mim. Trouxe-me uma especial graça, uma benção de Deus, um presente do céu: a oportunidade de escrever uma carta para você, Ana Carolina!


Minha amiga, tenho tanto a lhe falar que numa carta não caberia. Então resolvi lhe contar da importante e linda experiência que vivi na tarde de hoje. Tudo começou assim:


Senti como se à minha frente existisse um painel cheio de botões. Tive a impressão de que eu era dotada de poderes sobre aqueles botões, tendo total liberdade para optar pelo que mais me fizesse bem, para escolher pelo que mais agradasse ao meu coração. Pois bem, Ana Carolina, nesse imaginário painel havia uma reluzente tecla com seu nome. Era um botão iluminado. Uma colorida tecla de suave arco-íris, agradáveis matizes convidativas para uma prolongada pausa. Aquela tecla parecia o conjunto das mais belas e perfumosas flores de um jardim especial, e, então, me vi sentada em um tapete feito de grama verde e fresca, embaixo de uma enorme árvore que já tinha pequenos novos frutos indicativos de farta colheita em breve.


Lá fiquei interagindo com o poder do amor e sentindo o quanto é simples ser feliz. Sabe Ana Carolina? O encontro com a natureza é a expressão do amor. É a tradução do amor. É a revelação do segredo de ser feliz. É a presença de Deus aqui na terra. Experimente comungar do ambiente natural e saberá do que falo, porque você se tornará sábia e feliz.


Nesta tarde de setembro, nesse momento, no qual estive contemplando o céu primaveril, fiz um poema e o dedico para você. Leia para seus amigos.


Vanda Ferreira



Viva a Primavera da menina Ana Carolina




Bóiam no azul:


inflados retalhos,


chumaços celestes de lembranças infantis.


Flutuantes coisas,


aladas tipo pensamento


ensaboado e untado de fabulosidade;


Escorregam da visão brincadeiras:


pega-pega, esconde-esconde,


anjos, portais e templos,


flores, frutas, embarcações;


Aves, porcos, carneiros;


Charretes e belos cavalos brancos.


Composições do vento


Desfilam na imaginária passarela


Dos olhos andarilhos em nuvens


Ao léu do céu primaveril.


sábado, 26 de setembro de 2009

FLOR DA EMBIRUÇO


Tronco tatuado de musgos
Desgalha robustos ramos
Revoluciona convenções florais
Para saciamento dos beija-flores.
Casulo fada descerra liberdade,
Aberto cálice jorra cristal,
Múltiplas varas de condões
Encantamento de encontro
Lambeção de vento
Nos canutilhos de verdades matutas
Brancura da embiruçu
É chuva de pistilos
Celestialmente azuis
Envolta de cordão umbilical
Despojada fita de fibra
Retorcida para o enlace de longos desejos
Múltiplos estames
Tochas de artifícios
Colhidas pelo sol.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Céu em Sol Nascente

(pag.62 do livro Bugresia - 6º livro de Vanda Ferreira)


Venha'miga
Desabrochadas flores na toalha
Exalam bons perfumes;
As porcelanas se tocam,
E o cheiro quente do café
Condimenta o frescor da manhã.


Venha'miga
Passarinhos em revoadas
Cantam, cantam, cantam!
Hino à sagrada liberdade
No tom de céu em sol nascente.


Venha'miga
As emergentes açucenas
Explodiram a terra seca
O canteiro florido acena
Uma dança do vento
Fazendo parte da cena.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

OLHOS BUGRAIS - prosa poética da Bugra Sarara (título provisório)

Olho para Joana D’arc:
Fortes linhas delineam profundeza.
Marcante expressão
Cravada entre – cílios.
Olhos presos
Demarcados por vírgulas pretas,
Nesgas serpentinas
Nos parênteses visuais de Joana D’arc.
Pálida porcelana antiga
Cravejada duplamente.
Luas negras eternizadas
Na imaginação dos homens,
Reproduz eterno sono.
Cetim de mortalha
Coroa sua cabeça de totem,
Manto exagerado
Veste-a de importante história.
No escuro de seus olhos
Globo de multicores
Estrelas d’ amor doentio.


Encontro’s olhos de Jesus Cristo.
Úmidas pupilas celestes globalizam humanidade,
Cristalizam paz,
Tantas expressões
Tentadas pelo homem:
Todas mostram entrega e resignação.
(quatro vermelhas rosas).
Pincelaram o corpo
(Seivaram a pele clara sem pecado)
Bento momento espargiu
Farpada coroa
Aura de dor
Na cabeça de Jesus Cristo;
Um jardim eterniza vestígios
Transparentes portas redondas
Dupla feita de cristal azul
Leveza e suavidade
Contrastam saída e entrada,
Início e fim,
Perene testamento
Nas milenares Oliveiras.




Pauso nos olhos de Mona Lisa
Lá permanece o deboche da incognititude.
Olhar mascarado por mistérios que não se rompem,
Não se corrompem com lanças de espionagem.
Meus olhos nos olhos de Mona
Inquietação sucumbe
Invasões que eternizam curiosidade.
O olhar de Mona Lisa hipnotiza;
Bobagem, numa sábia,
Cega aleatorizada visão.
Desejo de beijar fica preso
No sorriso introvertido
De sua boca copiada de secretos desejos.
Ao olhar Mona Lisa
Profundamente sou olhada
Por importâncias do desdém
E mosáiquicas fantasias.


Espio céu noturno,
Belezas cúbicas
Interpretadas pelo antepassado...
Hipotenusas, medusas, braços de estrelas.
Tudo solto, livre e estático!
À noite redondo olho na testa do céu
Unicórnio para invocações
Releituras e exercícios
Dos medievais espíritos
Ainda tem magias,
Crença de noivas
E fé da terra.
São Jorge lá!
Cá: dragões que já não cospem fogo...
Mesmo assim perambulam
Arrastando o peso dos perigos.


Procuro no peixe seu olhar!
Esféricos olhos mergulhados em mistérios
Luas cristalinas
Cheias d’água
Bolhas densas
Na cabeça cravejada de lascas de ouro
Atravessam, cortam o escuro.
Meus olhos não vêem!!
Somente o peixe me vê
Estimula utopias
Comunidade vivente em castelos
Grutas santas
Onde certamente adoram seu rei.


Curioso olhar
Nos entre meios verdes
Procura pelos olhos do mato...
Olhos soltos passeiam,
Perambulando cenário,
Poderosos espiam minha meditação
Assistem silenciosa comunhão
Refletida n’água dos peixes
Olho bugresia,
Canta o bambuzal
Lamúrias no entardecer do pensamento
Credo de secretas gargantas
Encontradas pelo vento
Momentos roubados pelo córrego
Desejos levados pela lua
Passeiam durante a noite
Para colorir o amanhã...


Sinal da cruz
Braços abertos: longos...
Mãos que alcançam leste e oeste
Oeste a leste
Frente ao norte e verso ao sul
Trocam-se, invertem-se tipo brisa.
Giros para encontrar ângulos
Rosa do vento, nuvens azuis e partes lunares;


No vermelho coração de bugra
Vejo brancura...
Começantes desejos
Insaciável e ansiosa alma
Parindo flores, idéias, atitudes.
Cheia de casos amorosos
Passarinhos amados,
Aromas infiltrados no cérebro
E cores cortinando’s olhos...
Rastro no campo da vida
Segue trilha do sangue
Goteja em prazeres
Pincela destinos alheios
Bugra branca
Disfarça suas garras felinas
Planta o coração na floresta
Para pulsar em ritmo matuto


No camarote de barro
Desfila o futuro
Chega vestido de passado
Ritua ao som do bambuzal,
Sacis e cigarras


Velhas árvores
Fazendo contação de segredos
Agregam sabedoria de raízes
Processo de crescimento equilibrado
Para cima e para baixo


Na terra olhos estirados
Espionam orvalho,
Estrume,
Alegria andante das formigas


Na realidade do Saci Pererê,
Assobios trinam quietude
Sedução noturnamente matuta
Desfila em passarela penumbrada
Dos cristais celestialmente azuis.


Olhos fechados espionam
- frenesi da alma poética
Branca, sempre virgem.
Imaculada carente
Desejos ardentes
Buscando ser pedra,
Dormir ao relento
Na terra de emas e seriemas;


Sonho de poeta
Quer mais que ossos e pele
Visa mutações,
Sangue verde florestal
Seiva de planta rasgando a terra,
Natalina flor de guavira;
Visa prazeres de bicho de asa,
Penas, pelo ou couro.
Deseja deter a fidelidade canina,
O simples da felicidade por ter um dono
-somente um dono
Almeja sossego maternal
De cadelas paridas
Serve colostro em devassados mamilos
Guarda bens preciosos,
Território de particular jardim
Cala-se para contemplar estrada vazia


Velho espelho
Preso em meus dedos
Mostra o mel dos olhos
Lâmina refletora foca história
Sobrancelha desenhada com maestria
De longiquoa vaidade.
Pés sustentam segredos
Escondem tatuagens
Estigmas de luas cheias
Aprisionadas em trilhas sentimentais
Piro grafadas em torno dos olhos
Construiu cofre de preservação
Disfarce na teia facial.
Dores escondidas
Em roxas olheiras
Tingem a meninice do olhar.
Restos marcos
De antigas poesias
Feitas em jardins floridos.


Nos vitrais do córrego
Controladas pelo vento
Abrem-se passagens para luas e sois.
Travessia de cheiros
Que perfumam pensamentos,
Segredos viajeiros
Folhagens verdes
Liberam borboletas
Leves libélulas
Para amansar saudades,
Libertar poemas e canções.


Brilhante olho
No rosto redondo do céu
Sempre aberto para o vento azul
Equilibra visões entre noite e dia
Olha o mundo,
Aves, águas, árvores;
O dia tem um olhar inverso
Nunca é olhado;
Agressivo olho que somente olha
Ofusca olhos que ousam
Descobrir sua íris multicor;
Existe para o exercício da ótica
Que observa entorno
Parâmetros externos
Exigência de concentração dispersa...
Mundo viral gira
Animais e plantas
Cores distribuídas na pele da terra
Vistas através do sol
Proporções carnais nas cavidades
Bolitas em meu rosto
Enxergam induzidas conquistas
Sedutora parceria que abre cílios.


Quando o céu azula a testa
Quer olhar profundeza
Há troca de olhares
O interno suplica atenção
Em corujas nas trilhas de terra
Matutando a existência das esquinas
Olhar compenetrado é feito de lua
É feitiço devassador de mistérios
Escondidos no breu celeste
Deitada em travesseiro de nuvens
Visão de silêncio, de vento.
Valores cobertos de razões
Cantam para abertura de meus olhos


Há olhos
Por traz das pálpebras fechadas
Somente os excepcionais se abrem
Íris são lentes de elevado grau
Alcançam horizonte
Secreto mundo interno
Onde o sangue bomba
Mina, jorra e goteja


Vãos de perfeitos ângulos
Devassam mundo de mandioca,
Tereré, água da fonte.
Erva-mata-sede.
Janelas escancaradas
No rosto sempre jovem
Cravado no corpo
Do Bugre da Conceição;


Espio buraco de fechaduras imaginárias
Muitas portas passageiras
Vãos de vai-e-vem
Entra-e-sai
De ermitões urbanos.
Cenas balançam em realidade
Contação de gente
Ninguém se enxerga,
Nem mesmo ao outro se vê...
Desfila moda de vestuário,
Moda sem definição instrumental,
Aromas industrializados
E prosa sem tema...
Revoa fumaça de cigarro e gelo humano
Temperos de solitários corações
Fingidores de vermelho...


Espio lavanderias
Montanhas de roupas suadas
Abraçadas umas às outras
Unificam seus destinos
Misto cheiro de passado,
Flores e chulé
Mergulham no azul da água
Para programada dança
Ao som de motor e canto da lavadeira
Sessão de exorcismo
Na arena d’água
Mangas sem braços chicoteiam
Dissecam o sujo do limpo
Coices de pernas de pano
Separam o bem do mal.


O céu entardecido
Exibe medalha de ouro
Redondamente amarela
Fumega em seu torno
Vermelho calor colhido no campo
Nas estradas de terra
Nas pastagens sem árvores.
Histórias diurnas
Engordam o sol
Robusto alimento
Para cair na boca da noite




Sanguinárias histórias
Acontecidas após meio-dia;
Cerrado sem chuva
Morte de passarinho
Não vejo funeral!
Queima pés de peões
Atiça sede do cavalo
E engrossa a fila do gado
Em passos lentos até a aguada
Sucuri também caça
Longe das tocas
Dos barrancos secos
Rasteja até os terreiros
Dos ranchos com galinheiros
Fome traz coragem,
Disposição para ir ao longe
Em busca de alimento para a carne


Assisto aos poetas
Suas paixões
Abismos de prazeres
Venerada rotina
Repetições de lua cheia
Todo mês:
releitura de mistérios,
Todo dia: reina o sol
Ciclo amadamente esperado
Ritos de dores
Convulsões alfabéticas
Para compor infinito de rimas
Combinações de flores e frutas
Tipo perfumes exóticos
Feitos de purezas simples
Sorrisos, verdades,
experiências caseiras.


Os olhos param,
Tudo pára diante de um pé de Pára Tudo
Estradas retas, sinuosas e desertas.
Recebem flores amarelas
Buquês de sol
Para clarear lembranças primaveris


Flor da Embiruçu
Tronco tatuado de musgos
Desgalha robustos ramos
Revoluciona convenções florais
Para saciamento dos beija-flores.
Casulo fada descerra liberdade,
Aberto cálice jorra cristal,
Múltiplas varas de condões
Encantamento de encontro
Lambeção de vento
Nos canutilhos de verdades matutas
Brancura da embiruçu
É chuva de pistilos
Celestialmente azuis
Envolta de cordão umbilical
Despojada fita de fibra
Retorcida para o enlace de longos desejos
Múltiplos estames
Tochas de artifícios
Colhidas pelo sol.


Velha árvore
Veste couro de serpente
Na enrugada pele
Estriada pelo sol.
Garras maleáveis
Escalam rugosas pernas
Sobem para a vida
Refúgio na mata
Busca de sol
Montaria de plantinhas
Para florescência de cores
Furtadas dos passarinhos.


Dentro de cada orquídea florida
Duende acordado
Bebe sereno
Toma banho de lua
Lava a alma da flor
Os olhos perfumados
Brancos lisos escondidos
Cheios de feitiço
Encantam a quem olhar
Prendem suspiros para
Soltar nas noites
Silenciosamente
A flor mente
Ser vegetal
Esconde espírito
Num eixo interno
Manteado de pétalas
Levemente a farfalhar


No campo
Olhos passeiam
Em repetitiva história
Do estático velho coqueiro...
...Não resistiu à bela da noite
sustentado por terra
cresceu inclinado
reverenciando paixão
Morrerá retorcido
No desejo enrustido
Tentando abraçar
O entardecimento do leste
Para beijar o inexistente lábio da lua
Roxo oculta sangue seco
Roubado da artéria do rio
Quando’inda era fresco e azul.


No dorso da árvore
Orquídea aberta
imita borboleta
Desabrocha arco-íris
Explosões de lábios
Coloridos e carnudos
Sorrisos abertos
Aos primeiros raios solares;
Ecoam gargalhadas.


Olhares passeiam em noturnidade
Mitológica cabeça redonda,
plumas sobre duas garras
estacionadas na terra.
Ambos rubis
Passeiam na cruz cardeal;
Movimentos circulares
Alcançarão o fim da noite!
Em banho de lua
Resta perfume de sereno...
Grama fresca
Até o nascer do sol.


Sondando curva do córrego
Enrosco-me;
Presa nos cipós
Pendurados nos sonhos
Das árvores ciliares
Danço quimeras
À cantoria de passarinhos.
Areia acorda pele,
Desperta ouvidos e olhos.
serpente vestida de água,
Sinuosa desliza
Monto mosaico de mistérios
A incognititude após o barranco.
Corpo preso
Passeia o coração,
Água leva pensamento,
Lava alma,
Destrava algemas.


Olhos choram,
Guaraneamente choram,
na beira do brejo
beiro barro
terra molhada
mista de sereno e lágrima;
noite vestida de branco,
prepara noivas,
devaneios femininos
criação de texturas e perfumes;
sola o silêncio campestre
canta o vento,
seresta requintada
folhagens e grilos.


Para matutino olhar,
Mamoeiro floresce,
Manhã ensolara largos leques;
Verde, azul, outras cores!
Aeroplano de penas
-Furtando mel!
Beija-flor
Vive a beijar,
Vôo nos revôos
Pétalas brancas
Flores beijadas


Bela coreografia
Exposta em cordão ao vento
varal pendura pensamentos,
Partes celestes,
Pedaços de saudade
Entrecortada pelo vento.
Ombros de madeira
Vestem histórias;
Recentes passados
Perduram nos rebas broches
Presos ao cós da calça
Desvestida da elegância muscular.
Camisas acenam
Mangas maleáveis
Pactuando brevidade
Reencontro carnal.
Evasão de lembranças,
Livro aberto,
Ao leo
Coloridos capítulos devassados pelo sol.


Flor de amor
Rosada pele de cetim,
Mundo azul
Nos olhos da menina
Branca Beatriz
Cheia de louro
Laços de ouro,
Tenra vida
Plenitude histórica.
Netos são mimos
Criam novos tempos,
Comemorativos dias d’avó
Presentes que consagram,
Sagram e abençoam velhas mães.


Em noite enluarada,
Olhos encantados
Embebidos em feitiço
De clarezas noturnas
Lua flutua
Nos parênteses celestes
Cheios de reticências.
Tímidos desejos incubados
Escondidos sob brancos véus.
Harpas douradas solam
Finas fragâncias
Encorpando vermelho
De rosas e sementes sertanejas.
Promessas na fronteira
Unem coração,
Olhar e demais sensores.


Prevejo desenvolvimento
Saudando mina d’agua
Onde nasce
Peregrino destino.
não sucumbirá!
Nascente implacável
pequena de gigante querer
-Deseja eternidade.
Forma alianças
Encontros fortalecedores
Insaciável procura distante futuro
Em longos caminhos
Profundos mistérios,
Rasas surpresas.
Água serpenteia
Até o mar.


Transe de olhações
Deixa poeira para trás
Devolve-a para a estrada
Nuvens de terra
coroam passado!


Passeantes olhos
Por entre vãos florestais
Assuntam misterioso enrosco
Palmeiras entre laçadas
Na imponência de velhas árvores.
Coqueiros semeados por pássaros
Vôos pausados nos altos galhos
De importâncias figueirenses.


Curioso cérebro
Contorna suculências matutas
Falsa placidez aquática
Rodeada de frondosidade animalesca.
Casuais borboletas proporcionam leveza
Complementada por libélulas, abelhas
Delicadas flores e verdejante aroma;


Avisto lua cheia
Horizonte camponês
Noite aberta
Liberdade é branca
Claro infinito
Para eu tingi-lo ao meu gosto
Abanco em pedras
Abrilhantadas por luminosidade noturna
Ponto de luz
Globalização celeste
Cristais soltos
Informatizantes d’oeste
Formatam poemas.


Pescadora no barranco do rio
É minhoca
Se deliciando
Na textura da argila
O chuá das águas
Eleva as emoções
E a pescadora pesca
A cantoria das aves
Os harmônicos rumores
Dos bichos ocultos
Por trás das matas
Que escondem o rio
Pesca imagens nos desenhos
das nuvens brancas,
das róseas,
das azuis.
Pesca a paz do azul celeste
A esperança do verde vegetal
A alegria do colorido da flora
A pescaria é realizada
Na pausa meditativa
que acontece no barranco fresco
Que sussurra vida.




Cenário se compõe
de cantos, quinas, esquinas
musgos se juntam vestem troncos
tingem o incolor
parasitas que somam
para enriquecer a floresta
verde floresta
onde vegeta o todo
num mercê de estar vivo...


Vento frio navalha sentimentos
Sangra saudades
Sacode pensamento
Inverno estampa lembranças
Recorda campo verde
Árvores ensolaradas
Cores, aves e flores;
Proposta invernal
Entrelaça valores
Indústria, ervas e flanelas
Corpos humanos
Olhos voltados
Para aconchego.


Roça de mel
Abrem-se imaginários vãos
Brechas na cerca viva
Para travessia do pensamento;
Aromas escalam frondosas árvores
Fé celeste para ecos
De Quero-queros;
No amarelo mamão
Sementes maduras
Garimpadas por Arapuás;
Diamante negro escavado
Ferida lambida
Roça de mel
Chama de abelhas.


Árvores
Braços múltiplos,
Mãos e dedos adornados
Com preciosos anéis;
pés de confetes
Cipós, Flores,
Pernas vestidas
Com pele de musgo;
Corpo perfumado
Seiva de cheiro matuto;
Singra em mim
Acolhimento para poesias.


Refinadas extremidades
Fertilizam ao vento
Grande leste
De passarinhos em setembro;
Período sem chuva
Tempo de secagem
Materiais para construção
De maternidades avícolas;
Primavera camponesa
Estação matrimonial
Casais felizes
Caçam capim, palhas secas, barro
Criam residenciais reprodutivos;
Ovos depositados
Na fé espacial
Passarinhos em chocadeiras de desejos
Para a fartura pós-chuva.


Goiabeira imita mangueira,
Que imita Cajueiro
carregado de promessas;
No tempo primaveril
Árvores trajadas para festa
Chapéus de chita floral
Mostruário futurista
Indicações nas alturas
De arvores frutíferas;


Corpos vegetais
Bebem do orvalho
Entre-sois
Cantatas de alegria


Literatura bovina
É Livro aberto
Tatuado de poesia
Passarela dos quereres
-Sombras e capim-
Desejos satisfeitos :
Comunidade rumina prazeres
Trilhas no pasto bovino
feitas pela sede
busca d’agua
no pé do campo,
no pé do boi,
no estômago da terra.


Pequeninas árvores
Cravadas no barranco
Se estendem sobre o céu d’agua;
Praça de diversão,
Parque do namoro,
Encontros não-casuais;
céu de passarinhos
Molhado de frescor
Cores são vivos seres
Teatro sinfônico
Galhos instrumentais
Arranjam alegrias
Eterno Vai-e-vem
Sóis e luas
Ventos e chuvas
passam, repassam
Córrego condomínio
Abriga gerações
mães, pais, filhos
Todos em torno
do entorno ciliar.


Paz instalada
Plantada pelos bois.
Sinaliza o sol
Marca sede,fome
Calor


Árvores crocheteiras
Constroem redes verdes
Folhas artisticamente emendadas
Pelos habilidosos dedos do vento
Para o exercício da espiação;
Gigante véu
Renda seivada
Protegidas vidas
Potência de raio x
Pupilas esticadas
Na luz do sol
Encontro animalesco.


Árvores
Teimosamente buscam água
Na secura do cerrado;
Troncos finos estriados
Esforços para ganhar vida
Retorcimento de corpos
Incontidos desejos
Viver liberdade
Floração,
beijos dos beija-flores
Provações do vento;
Para amar o céu
Árvores crescem para cima e para baixo.


Sol valente adoça terra
Permanente povoado
No eclipse escondido de luzes;
Espiações das meninas dos olhos
Fazem encontros nas minas
Passíveis pedras
Castelos submersos;
Reis e peões
Gladiadores entranham córrego
Intestinos barrentos
Excretam sonhos animalescos.


Cães caipiras
Voam e cantam
Denunciam homens
E outros estranhos bichos;
Poderes alados
Anunciam perigos
Nos terreiros fazendeiros
Quero-quero canta presença
Ocupantes forasteiros


Formigas vermelhas
Saudosas do verde
Desfilam seus desejos de fartura;
Andança em trilha demarcada
Ao encontro do verão
Escalando hastes de capins secos;
Caminheiras vão e vêm
Do castelo feito da desconstrução;
Portas, túneis e berços
Lençóis de terra
Muralhas de imaginários tijolos
Legítimas arquitetos
Eternizam cavernas.


Mundo de Joãos
Tecelagem arquitetônica
Feita por Joãos
João-de-barro,
João-de-graveto,
João-de-capim
João-de-barranco,
João-de-teia,
João-de-lixo.
Construtores de histórias
Destruidores de lixo;
Interrompem caminhos
Constroem casas flutuantes na fé,
Grudadas em esteios
Cavados túneis nos galhos secos;
Joãos zumbem pensamento,
Verdes quereres;
Ventam nas janelas
- forasticidade noturna -


Sol de vaga-lumes
Repõe quereres
Coragem para abrir gavetas e sonhar
Astros diurnos
Fadas noturnas


Após a chuva
Céu molhado esculpe
talha a terra
lambeção de vento
varre e destina poeira
após a dança
insinuações pro meus olhos;
bichos pisam
dão o toque final
olhos,
rostos de covas sorridentes
no destino feito
em sistemática parceria
da dupla de céus
corpos da serra
esculturas ao céu
belas barrigas grávidas,
empinados seios de areia:
o sol bronzeia!


rudes corpos
esfeitam-se de fragilidade
pequenos corações
multicores na cabeça;
Esculturais troncos
Estriados de emoções,
Retorcidos pelo vento
Coreografam para os olhos do homem;


Nos jardins:
Palco de arvores
Espreguiçadas em suas próprias sombras
Deitam na cronologia de seus tempos;
Seres de braços escancarados
Acolhem fantasias minhas,
Recebem carinhos
Bons e ruins
De intromissões temporais;


Sol escaldante,
Evolui externidade arvoral
força do vento brabo
Tenta vencer sabias raízes
Pessoas preocupadas
Apenas passam
Não abraçam as memórias
Da flora,
Não percebem o vagal sorriso verde
Que perfuma e acena
Para o dia entardecer


Passado infaltil
Exposto em códigos
Quadros de bicicletas
rodas e guidões
brancura saudosa das cores
Balança em solidão...
Pêndulos de memórias
olhos testemunhos
espiação sigilosa
de velhas árvores
no adulto
sarcófago das brincadeiras
apodrecidas por esquecimento.


Lua cheia de misticismo
Veste ouro
Engravida do futuro
Para nascer poesia dourada;


Esses olhos abertos
Fendados no céu do cosmo
“namasteia-me” demoradamente
Lume helicoidal
rabisco de perfume
Garganta explícita
jorra arabesco de luz
ruminada em tacho de ouro
onde as paralelas se encontram
no fim do arco-íris.