Sou da companhia da Bugra

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

INVEJA e IRA (SETE PECADOS) - Vanda Ferreira


Há um tipo de lepra que come,


outra que bebe, outra que rasga;






Lepra que alfineta os roteiros de paz


funga a plantação de flores, mofa a fertilidade da terra.






Há o mal instalado em retorcido corpo


cunvulsivo de ira espionando o bem.






O mau sonda o bom


Portando em ambas mãos escancarado desejo de saquear;






Punhais, facões, tridentes;


rajadas sopradas de venenosas goelas


(labaredas de irises de incandescidos fornos)


tecem alastradas armadilhas


costuradas com perigosa linha de inveja,






lepra munida de sede, fome e outras incontidas ardências.


Quilométrica lingua cravada na garganta


de famintos vermes comendo vivas carnes;






Inveja lambe santas sangrias,


deposita venenos


para manter as alargadas chagas






Há tantos tipos de lepra...

ROTEIRO DA LIBERDADE - Vanda Ferreira


Ouço meu mar.

Inquietude vermelha,

trajetória de meu coração,

implode, explode

e tudo pode!



Surfar em pranchas de sonho,

navegar em barcos de matutice,

cruzar sinais de glamourosos navios

da lua repartida em meu céu.



O vento passeante,

andarilho em torno dos neurônios,

fala ao pensamento cardíaco.

domingo, 4 de outubro de 2009

POEMA DO MEIO-SÉCULO

Carne pirograficada
estilizado grafismo
pontua a pele
demarca as faces;

Par de profundas fendas
expressividade sentimental
contação auto-biográfica;

Rosto mapeado,
tatuado de versos,
linhas de particular história
cravadas em esculpida página-entre-parenteses;

Sinal lunar
resumo de quartos minguados
boca fechada fala:
Lê-se na brecha
das nesgas de marfim
(harmonizadas porcelanas).

Paladar experimenta versos salivados
esfregados no céu de particular mundo.

Sentimentos? É a carne quem os vive!

Poema do Meio-século