Sou da companhia da Bugra

ANI

ANI
Vanda Ferreira




Especialmente hoje pausei meu acelerado cérebro desenfreado e louco, para pensar em meu futuro.
Para pensar exatamente no tempo do futuro bem longínquo, quando esta carne que me configura estiver morta e devorada pela fome dos vermes viventes há sete palmos de profundidade na terra abaixo.




Acredito que algo será falado a respeito de uma mulher


que era o celeiro de uma alma ermitã;


Que escrevia feito bicho estranho,
ANI (Animal Não Identificado) ...


Que vivia atribulada com sua realidade carregada de afazeres e que em fugidios minutos escrevia; escrevia, escrevia.


Seus lábios carnudos eram copia da boca das índias do mato.


O cabelo claro e encaracolado denunciava a mistura, o testemunho da cruza de negrura e brancura.




Era uma vez uma mulher.
Ela tinha beleza física de européia e nobre coração de bugre.


Seu sangue era verde, e seivava pelos poros de pele floral.
Ela nasceu no mato, amava o mato e vivia no mato.


Escreveu sobre o mato.
Cantou sobre o mato e morreu feliz no mato.




Mas viveu um pesadelo.


Seus textos eram pouco lidos. Ninguém se interessava em ler poesia matuta. Ninguém queria rimar céu azul, com Mato Grosso do Sul e nhambu e teiú, muito menos urubu e seu fundamental papel no mato.


Rimas de mato com tato, fato, trato, contato com mato, não eram valiosas. Ninguém via a explícita poesia do mato.


Ninguém queria que falasse, ou abordasse as brancuras dos papéis imaculados, para sobre a incontrolável atração de homens brancos pela magnitude de mulheres índias e negras.


Ninguém publicou seus textos sobre os acasalamentos de brancos invasores da terra brasileira, cuja tara engravidava as índias e estas davam à luz à nação brasileiríssima: Bugres e Bugras.




Ninguém assumia que se apossou das terras de seus verdadeiros donos. Ninguém assumia que usava papel higiênico e cimento e tijolo do útero da mãe-natureza. E que bebe da preciosidade que verte de uma ferida aberta no coração da mãe-natureza.




Mas ela não escrevia para ninguém!


Ela exteriorizava seu amor para o papel porque o mato é extenso, alto e profundo e não havia como abraçar e beijar o mato e então transbordando de amor pelo mato produziu enes pergaminhos e os distribui em um belo corredor na galeria do barranco do rio no mato para quando o futuro chegar e os historiadores e pesquisadores resolverem caminhar pelo deserto que era o mato na avenida sinuosa esculpida pela maestria da preciosidade que verteu da ferida aberta no coração da mãe-terra.




Falando em Mato, importa tudo da vida




E NADA IMPORTA O CALIBRE DO MATO.
NÃO IMPORTA SE É GROSSO OU FINO, RÍGIDO, RETO, TORTO, DELGADO.
IMPORTA QUE Seja MATO.




Ai, ai que me engulam porque quando eu morrer renascerei mesmo!!!


Assim: como Fênix.
E tenho pressa em investir na imortalidade da CULTURA RURAL e a bestialidade humana passará, ninguém viverá sem a fauna e flora e água e terra e comida natural e sol e lua...


Tudo é primeiro plano e nós humanos mortais estamos em um plano tão fim de fila que sairemos urrando, gritando, clamando por água, canto de passarinho, alface, árvore e leite que vem da vaquinha que come grama que nasce nos grandes campos que se chamam pasto!!!!

SINOPSE


Grupo “Arte & Movimento”

Espetáculo Experimental de Teatro:

“ANI”



O espetáculo experimental “ANI” (que significa: animal não identificado) surgiu do desejo de criar algo inédito sobre texto de desabafo, até então desconhecido, da escritora de Campo Grande, Vanda Ferreira (cônsul dos Poetas Del Mundo do entorno rural de MS e ativista cultural). Sensibilizados pelo texto da escritora, o “Arte & Movimento” tirou do papel todo o sentimento de revolta e indignação de uma personagem que vive nesse mundo turbulento e tem na escrita uma forma de se comunicar com o mundo! Mas ela não é reconhecida.

Como escritora e mulher, tem um único desejo: Demonstrar todo seu amor pela mata, em especial por Mato Grosso do Sul e gritar ao mundo a importância da harmonia, respeito e reconhecimento do ser humano para com todo o seu meio ambiente e sua história.

Indignada, ela ressurgirá da terra.

O espetáculo é acompanhado de música ao vivo, valoriza a cultura sul-mato-grossense e carrega uma canção inédita!

Componentes: Sabrina Carvalho, Diogo Adriani e Diego Adrianne. Duração: 35 min.

O GRUPO ARTE&MOVIMENTO
 
RELEASE


Grupo “Arte & Movimento”



O trabalho experimental do grupo surgiu em 2010, quando Diego Adrianne (músico e compositor) e Sabrina Carvalho (atriz, dançarina e cantora) resolveram unir suas artes no 1º Acampamento dos Poetas Del Mundo, em Campo Grande/MS. A partir de então, elaboraram várias ideias de encenações, performances e esquetes de todos os tipos, com criação e direção dos próprios componentes do grupo, unindo o trabalho de corpo, encenação e música, partindo da inspiração em poemas e de temas que abordam a sensibilização do ser humano com relação a temas ambientais. ..................................................................................................

Em 2011, mais uma vez convidados a participar do 2º Encontro dos Poetas Del Mundo, o grupo se une a Diogo Adriani (ator e dançarino), compondo assim o então batizado “Arte & Movimento”.

Adotado pelo grupo, em especial, poemas e textos de Vanda Ferreira (cônsul dos Poetas Del Mundo do entorno rural de MS, ativista cultural e escritora) o “Arte & Movimento” valoriza a cultura sul-mato-grossense e se especializa em montagens experimentais, trabalhando sobre textos não adaptados para o teatro, tendo sempre como ponto de partida o improviso que nasce a partir do sentimento que envolve o texto, estudando o autor e sua criação. Desta forma, nasceu o seu mais recente espetáculo, “ANI” (Animal Não Identificado).


O primeiro ensaio aberto:




(durante o sarau do acampamento Roça de paz)



http://www.youtube.com/watch?v=AwwcIdoab-0